Todos nós sabemos que o paciente com diabetes e, sobretudo o diabetes tipo 2, que é o diabetes que se inicia normalmente a partir dos 35 – 40 anos de idade, essa população é muito vulnerável a complicações, sobretudo as complicações cardiovasculares, dentre elas por exemplo o infarto agudo do miocárdio. Já existe um risco nesta população duas a quatro vezes maior do que a população que não tem diabetes para doenças cardiovasculares e em decorrência disto, de mortalidade cardiovascular.
Atualmente nós vivenciamos uma terrível situação relacionada à COVID-19, é o novo coronavírus, que tem ceifado vidas de muitos brasileiros e em todo o mundo. Se analisarmos especificamente a população com diabetes, essa população é um dos grupos chamados de grupo de risco porque a pessoa com diabetes como um todo já tem intuitivamente um quadro de inflamação em decorrência, sobretudo da gordura visceral, um aumento da gordura no abdome e alteração da glicemia, chamada hiperglicemia. Então temos a resistência insulínica que vem da gordura visceral promove mais inflamação, e independentemente disso, a própria hiperglicemia também induz um quadro de inflamação e essas situações todas impõem um risco cardiovascular exacerbado na população com diabetes.
Então o que nos podemos recomendar para a população com diabetes como um todo é que se mantenha muito bem controlado do ponto de vista glicêmico, que mantenha todo o isolamento recomendado pelas autoridades de saúde pública em todo mundo e também do Brasil, e que a partir de então, mantendo a glicemia muito bem controlada esses pacientes com diabetes prevenirão as complicações cardiovasculares que decorrem desta situação, porque nós sabemos que pelo quadro de inflamação esse paciente com diabetes está mais disposto ao risco cardiovascular.
Nós também estamos vivenciando uma época de muito estresse emocional em decorrência desta situação e o estresse pode também potencializar o risco cardiovascular, então a nossa recomendação é primeiro manter o paciente com diabetes muito bem controlado, segundo manter todas as recomendações do isolamento social. Com isso nós não só diminuímos efetivamente o risco de contaminação pela COVID, e eventualmente, uma vez apresentado infelizmente a exposição a esse vírus, o paciente com diabetes bem controlado, de maneira ou de outra estaria prevenindo a potencialização das complicações que estão presentes na população com diabetes.
Autor: Dr. Ruy Lyra da Silva Filho
Professor de Endocrinologia da Universidade Federal de Pernambuco
Coordenador do Departamento de Doenças Cardiovasculares da SBD