Recomendações nutricionais e COVID-19

Artigo Comentado:

Dietary recommendations during the COVID-19 pandemic

Recomendações dietéticas durante a pandemia de COVID-19

de Faria Coelho-Ravagnani C, Corgosinho FC, Sanches FFZ, Prado CMM, Laviano A, Mota JF. Dietary recommendations during the COVID-19 pandemic [published online ahead of print, 2020 Jul 12]. Nutr Rev. 2020;nuaa067. doi:10.1093/nutrit/nuaa067

https://academic.oup.com/nutritionreviews/advance-article/doi/10.1093/nutrit/nuaa067/5870414

A alimentação balanceada tem papel fundamental não somente para melhoria do bem-estar geral dos indivíduos, mas também como forma de manutenção e fortalecimento do sistema imunológico e, dessa forma, tais recomendações alimentares podem ter interações com o atual momento da sociedade, a pandemia do COVID-19.

Com o intuito de resumir as recomendações nutricionais para direcionar os profissionais da saúde, principalmente nutricionista e médicos, os autores do artigo realizaram uma busca sistemática de diretrizes e documentos oficiais que relacionam nutrição e COVID-19.

Recomendações dietéticas

Mais de 60% dos documentos selecionados na revisão sistemática incentivaram o consumo de frutas, hortaliças e alimentos integrais. Estas fontes alimentares estão associadas a vários micronutrientes, tais como vitaminas A, C, D, E e do complexo B, que já são conhecidas por terem associação positiva ao sistema imune. Além disso, outros nutrientes presentes nas recomendações dietéticas têm relação com a prevenção e melhora de alguns fatores de risco para COVID-19 graves.

Dentre as diretrizes selecionadas na revisão, quase um terço identificou o zinco e as vitaminas A, C e D como os principais para a saúde imunológica, devido suas interações com as respostas imunes adaptativa e mediadas por células. Todavia, os autores mencionam que todos os micronutrientes podem ser obtidos por uma alimentação diversificada e saudável, enquanto a exposição ao sol é importante para síntese de vitamina D.

Apesar dos documentos indicarem alimentos in natura ou minimamente processados, a maioria das pessoas durante a quarentena estão estocando alimentos ultra processados de longa validade. Visto isso, é necessário recomendações dietéticas mais objetivas sobre quais alimentos comprar.

Por fim, vários documentos apontaram a relação entre obesidade e os casos mais graves de COVID-19. Assim, o emagrecimento saudável pode ser uma estratégia para diminuir os riscos do coronavírus em formas graves.

Suplementação dietética

Nenhum documento apontou que suplementos são capazes de prevenir o coronavírus. Alguns citaram a suplementação como forma de atingir valores de RDIs quando não alcançados pela alimentação. Além disso, megadoses de vitaminas e minerais podem ter efeito oposto do desejado. Devido isso, que suplementos e recomendações alimentares devem ser feitas individualizadas e por profissionais nutricionistas capacitados.

Com isso, os autores concluem que a principal forma de se obter nutrientes essenciais para a saúde deve ser por meio de alimentos naturais, e a suplementação deve-se reservar para momentos em que as recomendações não foram atingidas.

Amamentação

Os autores destacam que a amamentação traz vários benefícios para a saúde da mãe e para a do lactente, sendo o alimento mais seguro e saudável para eles. De acordo a Organização Mundial da Saúde, o leite materno deve ser exclusivo para alimentação do bebê nos primeiros 6 meses de vida e complementar na alimentação da criança até dois anos ou mais.

Apesar da pandemia, é recomendado que a amamentação seja continuada, com os devidos cuidados de higienização e uso de máscaras. Estas recomendações valem para as mães que tiveram ou não o diagnóstico para COVID-19.

Higienização dos alimentos

Aproximadamente 54% dos documentos selecionados para a revisão continham orientações sobre higiene alimentar. As recomendações para a higienização acompanham as evidências e recomendações de higiene pessoal para os indivíduos, tais como o distanciamento durante as compras, limpeza das mãos antes e depois de manusear os alimentos e quando doente não sair, dando preferência para encomendas.

Sobre o manuseio dos alimentos, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação propõem cinco instruções sobre os alimentos: os: (1) manter os alimentos limpos; (2) separar alimentos crus e cozidos; (3) cozinhar bem os alimentos; (4) manter os alimentos em temperaturas seguras; e (5) usar água potável e matérias-primas.

Conclusão

A revisão conclui que a alimentação tem papel fundamental para a saúde dos indivíduos e para a manutenção de um sistema imunológico saudável. As recomendações dietéticas, suplementação, amamentação e o processo de higienização dos alimentos devem caminhar juntos e de forma individualizada não somente neste momento de pandemia, mas também em todas as faixas etárias e condições de saúde, a fim de promover melhor qualidade de vida.

Maria Noêmia Souza de Alcântara. Acadêmica do 5º período do curso de Nutrição da Universidade Federal de Goiás

Prof Dr João Felipe Mota. Professor Associado e Coordenador do Laboratório de Investigação em Nutrição Clínica e Esportiva da Universidade Federal de Goiás.