Relatório de ações do Instituto da Criança com Diabetes na maior catástrofe climática do RioGrande do Sul

maio 24, 2024

Chuvas intensas atingem o estado do Rio Grande do Sul desde o dia 27 de abril de 2024. As águas desceram para a Região Metropolitana, capital e Região Sul, se somando as volumosas chuvas que também atingiram estas regiões. Em 15 dias, a Serra Gaúcha recebeu mais de 700 mm de água, se somando a 400 mm no Vale do Taquari, 700 mm em Caxias do Sul e 368 mm em Porto Alegre.

Segundo dados publicados pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em apenas sete dias o lago Guaíba recebeu 14,2 trilhões de litros de água, o que significa quase metade do reservatório da usina de Itaipu, segunda maior hidrelétrica geradora de energia do mundo. Conforme reportagem do Portal G1, do Grupo Globo, o normal é de este montante passar pelo Guaíba a cada 18 semanas.

Conforme o balanço publicado pela Defesa Civil do estado no dia 21 de maio, 464 dos 497 pertencentes ao Rio Grande do Sul foram atingidos. Mais de 72.561 estão em abrigos, 581.633 pessoas estão desalojadas, 2.339.508 de pessoas foram afetadas, 806 pessoas ficaram feridas, 85 pessoas estão desaparecidas e 161 óbitos já foram confirmados. São números alarmantes
que ilustram a dimensão da catástrofe que atingiu o estado, considerada pelo Governo do Estado como “a maior catástrofe climática do Rio Grande do Sul”.

Desde o dia 5 de maio, pessoas e entidades de diversos estados do Brasil se mobilizaram de forma espontânea para doar dinheiro e insumos para o Rio Grande do Sul, após grande cobertura da mídia tradicional, o alerta de médicos, profissionais da saúde, grupos organizados e influenciadores digitais. O Instituto da Criança com Diabetes (ICD), graças a sua história e
credibilidade de 26 anos, foi uma das instituições escolhidas para receber parte destas doações, que se referem ao diabetes, e se colocou à disposição da sociedade para auxiliar seus mais de 4,9 mil pacientes cadastrados e demais pessoas com diabetes que precisassem de atendimento médico, receitas, ajustes de doses e doações de insumos. O que não imaginávamos era que esta seria uma mobilização de proporções nunca antes vista para a comunidade com diabetes no Brasil. Isso nos emociona e nos deixa orgulhosos.

Até o dia 21 de maio de 2024, a equipe do ICD contabilizou a chegada de 155.385 insumos recebidos de doações espontâneas, de empresas ou compradas com dinheiro recebido através de doações. Estes números são parciais, pois doações ainda estão chegando e sendo contabilizadas. São cargas que vêm do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina, Mato Grosso, Bahia, entre outros estados. Além disso, através de uma arrecadação em dinheiro para compra de insumos e para custear toda operação logística, foram arrecadados, até o presente momento, R$ 717.099,00.

Para comportar estas doações, montamos uma logística para operar em Canoas, cidade vizinha da capital, com uma Farmácia Básica dispensando insumos e um caminhão carreta refrigerado armazenando as insulinas a 5º C até que o transporte para Porto Alegre fosse possível de helicóptero ou por rodovia. Na sede do ICD, o espaço de armazenamento foi ampliado, toda equipe se mobilizou para receber os insumos, conferir as validades, catalogar e enviar para as regiões mais necessitadas ou diretamente para pacientes isolados. Além disso, montamos uma articulação com outros grupos que receberam insumos em lugares mais longínquos, como Caxias do Sul, Pelotas, Guaíba, Lajeado e Novo Hamburgo para facilitar o acesso das pessoas e a
logística.

A logística para encontrar quem precisa e fazer com que esses insumos cheguem até essas pessoas tem sido a principal dificuldade. Isso porque cidades inteiras submergiram. O Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, foi tomado pela água e a previsão é de que volte a operar apenas em setembro de 2024. A capital, inclusive, tem apenas uma entrada e uma saída para veículos comuns, causando congestionamentos de quilômetros, e um corredor humanitário que foi liberado para diversos veículos, também causando horas de espera no transporte rodoviário.

Em algumas localidades, só é possível chegar com suporte aéreo ou aquático. E todo esse trabalho é feito com o apoio de empresários que colocaram seus aviões, helicópteros, lanchas e até carreta refrigerada à disposição da nossa causa, 24 horas por dia estacionada dentro da Base Aérea de Canoas. Além disso, construímos uma articulação constante com diversas prefeituras, com a Força Aérea Brasileira para o recebimento das cargas e “estoque provisório”, o Exército Brasileiro na escolta dos insumos, a Marinha do Brasil trazendo insumos em voos, a Defensoria Pública do Rio Grande do Sul na articulação com as forças e a Secretaria Estadual da Saúde no apoio logístico e na busca ativa de pacientes.

Até o presente momento, 68.052 insumos já foram dispensados para entidades, abrigos, profissionais da saúde e pessoas com diabetes, entre insulinas de diversos tipos e insumos variados, como glicosímetros, tiras reagentes, lancetas, lancetadores, medicamentos, entre outros. Doações que tratamos com muita responsabilidade, visto que nenhuma foi perdida ou extraviada.

As águas começam a baixar, mas a situação deve se perdurar por muitos meses. São milhares de pessoas que perderam tudo, inclusive suas insulinas e demais insumos para o correto manejo do diabetes. Neste dia 21 de maio de 2024, data em que este relatório é finalizado, nosso principal foco continua sendo em fazer todo o possível para que os insumos cheguem de forma rápida e correta a quem precisa.

Algumas fotos que ilustram esta ação.

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