Medicina de Precisão: Variabilidades genéticas na resposta clínica no tratamento do Diabetes tipo 2

O diabetes é classificado como um grupo heterogêneo de distúrbios relacionados à resistência à insulina e ao comprometimento da secreção da insulina.  O difícil tratamento, associado à alta complexidade da doença, levam a um diagnóstico muitas vezes tardio que dificulta o tratamento dos sintomas, originando situações onde o paciente se encontra em níveis avançados da doença, em que as terapias são menos efetivas e os efeitos da doença mais danosos.

Considerando a heterogeneidade do diabetes e as variações genéticas de cada indivíduo, os tratamentos convencionais podem apresentar respostas distintas em cada paciente. Para lidar com essa questão, surgiu uma nova vertente na prevenção e tratamento de doenças, chamada medicina de precisão. 

A principal ferramenta da medicina de precisão é a personalização terapêutica, que otimiza as estratégias de tratamento de acordo com as características individuais do paciente, minimizando os efeitos adversos e aumentando a eficiência do tratamento, garantindo assim uma melhor qualidade de vida para o paciente. 

Com o avanço tecnológico e de técnicas de biologia molecular é possível a identificação de genes clinicamente relevantes associados à suscetibilidade do DMT2. A avaliação destas predisposições genéticas e de fatores farmacocinéticos, são fundamentais em um cenário de tratamento individualizado e garantem maior sucesso clínico, devido ao estabelecimento de um protocolo personalizado que, diferentemente das terapias tradicionais, não se baseia em características gerais de uma população.

Do ponto de vista genético, fisiopatológico e clínico, o Diabetes tipo 2 é considerado uma doença heterogênea, portanto, medidas preventivas devem ser utilizadas para controlar a progressão da doença, bem como suas complicações (1)

Existe uma grande variabilidade interindividual na resposta clínica dos pacientes aos fármacos hipoglicemiantes. Portanto, sabendo que o Diabetes tipo 2 é uma doença poligênica, uma abordagem personalizada, centrada no fenótipo e no genótipo pode contribuir de forma significativa no tratamento de pacientes com DMT2 (1).

Figura 1. A. Atualmente, nem todos os pacientes que estão recebendo o medicamento, apresentam resposta positiva ao tratamento, as terapias não apresentam resultados otimizados e causam efeitos colaterais em grande parte do grupo tratado.

  1. B. O cenário ideal é o da personalização terapêutica. Com base na genotipagem, todos os pacientes que tenham uma determinada doença recebem diferentes tratamentos, respondendo satisfatoriamente à terapia com menor risco de eventos adversos.

 

A resposta dos indivíduos aos fármacos pode variar devido a muitos fatores, como características demográficas (idade, sexo, índice de massa corporal), absorção dos fármacos, e comorbidades (função hepática e renal, associação de medicamentos). 

Essa heterogeneidade na resposta terapêutica também pode ser parcialmente atribuída a polimorfismos em genes que codificam enzimas, transportadores, receptores e moléculas metabolizadoras de drogas envolvidas na transdução de sinal o equivale a dizer que duas pessoas que recebem o mesmo medicamento podem ter respostas completamente diferentes (1).

As interações farmacogenéticas explicam parte da variação interindividual nas respostas ao tratamento antidiabético e podem fornecer a base para futuros padrões de tratamento baseados em genótipos

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Referência:

  1. Scheen, André J. “Precision medicine: The future in diabetes care?.” Diabetes Research and Clinical Practice 117 (2016): 12-21.
Dra. Caroline Mesquita
  • Farmacêutica
  • Doutora em Farmacologia - Faculdade de Ciências Médicas - UNICAMP
  • Especialista em Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia do Diabetes
  • Colunista da Sociedade Brasileira de Diabetes
  • Membro Ativo da Endocrine Society