Sociedade Brasileira de Diabetes chama atenção à necessidade de bom controle da doença para prevenir complicações cardiovasculares
Você sabia que as doenças cardiovasculares são as complicações decorrentes do diabetes que mais levam ao óbito? De acordo com a International Diabetes Federation (IDF), até 80% dos pacientes com diabetes tipo 2 morrem por causas relacionadas a problemas cardíacos: mundialmente, os índices são superiores aos óbitos ligados ao HIV, à tuberculose e ao câncer de mama.
A pessoa com diabetes pode diminuir o risco de infarto com um programa de prevenção que inclui alimentação saudável, atividade física, eliminando o hábito de fumar, fazendo exames periódicos e usando medicações preventivas que devem ser prescritas pelo médico.
A incidência de complicações cardiovasculares é grande no diabetes devido ao aumento dos níveis de glicose no sangue, que, juntamente ao colesterol e a pressão arterial, promovem a formação de placas de colesterol que entopem as artérias, como explica o Dr. Marcello Bertoluci, médico endocrinologista, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e membro do Departamento de Doenças Cardiovasculares da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). “Com níveis muito altos de glicose no sangue, várias coisas acontecem: o colesterol torna-se mais agressivo, formando maior número de placas nas artérias coronárias. Além disso, o aumento excessivo da glicose no sangue favorece a maior produção de coágulos que também podem obstruir as artérias. Quando uma artéria sofre uma obstrução, o coração entra em sofrimento por falta de oxigênio e o tecido sadio morre, sendo substituído por cicatriz. Dependendo do tamanho da área afetada, pode ser fatal ou deixar sequelas irreversíveis, como a insuficiência cardíaca”.
O especialista reforça que esses fatores se somam a outros fatores de risco que elevam o risco como a hipertensão, o colesterol alto, obesidade, sedentarismo, tabagismo e o histórico familiar de casos precoces de infarto agudo do miocárdio. “Esses fatores se potencializam quando a pessoa tem diabetes e devem ser rigorosamente controlados”. Por isso é fundamental o acompanhamento médico e a realização de exames preventivos periódicos”.
Atenção: sintomas do infarto agudo do miocárdio podem ser diferentes no diabetes
Na pessoa com diabetes, os sinais clássicos de infarto agudo como a dor forte no peito, irradiando para o braço podem não ser muito evidentes. Em algumas pessoas, os sintomas de falta de ar (dispneia) surgida sem explicação, uma sensação de mal estar generalizado com sudorese, náuseas e vômitos, um desmaio inexplicado e até mesmo uma descompensação do controle da glicose sem explicação podem ocorrer.
De acordo com Bertoluci, isso, em parte, acontece por conta de outra complicação do diabetes: a neuropatia autonômica, uma disfunção que afeta o sistema nervoso simpático e para-simpático. “Essa condição faz com que as pessoas sintam menos dor e o quadro clínico do infarto fique mascarado”. É, portanto, importante que, quando sintomas estranhos surgem repentinamente a pessoa deva procurar ajuda imediatamente em uma unidade médica de emergência, aparelhada para atender este tipo de problema.
Outra complicação importante é o acidente vascular cerebral. No AVC, os sinais mais comuns são a perda ou diminuição súbita da força ou surgimento de dormência em apenas um lado do corpo, como o braço ou a perna. Pode haver o surgimento súbito de uma fala arrastada, de confusão mental com troca de palavras ou mesmo um desvio na boca, ou ainda um desmaio. O atendimento precisa ser imediato pois a reversão tardia do fluxo sanguíneo cerebral pode deixar sequelas irreversíveis ou mesmo ser fatal. Outra complicação vascular que pode ocorrer é a insuficiência vascular periférica, quando artérias que nutrem os membros inferiores são obstruídas, levando à gangrena e a amputações dos membros inferiores. É importante, por isso, que o paciente com diabetes faça exame periódico dos pés.
“É fundamental também destacar que, na população geral, estas complicações vasculares tradicionalmente afetam mais os homens do que as mulheres. Entretanto, quando se trata de diabetes, estas diferenças desaparecem. Homens e mulheres têm incidências semelhantes de infarto agudo do miocárdio e AVC mas representam o dobro quando comparados a pessoas sem diabetes. Outra coisa importante é que quando ocorre em mulheres, elas tendem a ser mais graves, com maior mortalidade”, analisa Bertoluci.
Dr. Marcello Bertoluci
- Médico endocrinologista e Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
- Coordenador do Departamento Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Diabetes
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