Atualmente, com a pandemia de Covid-19, vivemos um momento conturbado e de muitas incertezas, que promove sensações negativas de ansiedade, angústia e medo. Associado a isso, vemos nossa rotina de vida bastante afetada, com diversas privações que até então não haviam sido vivenciadas.
Se para os adultos já é complicado aceitar esta nova realidade, para as crianças é mais difícil ainda! Não ir à escola, não poder brincar com os amiguinhos ou praticar esportes ao ar livre, ter restrição nas atividades de lazer com a família… enfim, são diversas situações que acarretam sofrimento aos pequenos, justamente por eles não compreenderem muito bem os motivos para tal confinamento.
Para as crianças com diabetes, associado a todas essas situações, os cuidados com o tratamento precisam ser os mesmos… e isso pode representar mais um fator de estresse à criança e sua família! Deste modo, precisamos ser criativos e procurar desenvolver atividades que envolvam todos os familiares, aproveitando o maior tempo de convívio em casa.
Neste contexto, a alimentação representa um dos pilares do tratamento do diabetes e há diversas possibilidades de se promover ações com as crianças, que estimulem práticas alimentares saudáveis, colaborando para o melhor controle da glicemia. Acompanhe, a seguir, algumas dicas:
- Tenha horários para realizar as refeições: mesmo com a alteração na rotina da família em virtude do isolamento, é preciso estabelecer horários e observar intervalos adequados entre as refeições, principalmente quando há uso de insulina. Isso ajuda no controle da fome e evita os famosos “beliscos”. Além disso, é preciso fazer um número apropriado de refeições ao dia (média de 4 a 7), que auxilia na adesão às quantidades alimentares presumidas para cada um. Tal atitude é importante para evitar omissão de refeições e excessos alimentares na refeição seguinte
- Aproveite esse tempo para conversar com as crianças sobre hábitos alimentares saudáveis: a alimentação da criança com diabetes deve seguir os mesmos parâmetros para aquelas crianças sem diabetes. Ou seja: deve ser baseada em escolhas saudáveis, com quantidade adequada, variada e colorida, além de ser preparada com os devidos cuidados de higiene. Além de conversar sobre alimentação, é preciso dar o exemplo: a criança precisa ver que os adultos comem os alimentos que dizem ser saudáveis. Realizar as refeições à mesa, com a família reunida, é um ótimo momento para tais orientações e trocas: na montagem dos pratos, servir alimentos variados, de todos os grupos alimentares (cereais, carnes, feijões, legumes, verduras, frutas), explicando a importância de cada um.
- Valorize o ambiente adequado para o momento das refeições: realizar as refeições em ambientes barulhentos, com televisão, computador, rádio, e celular, por exemplo, promovem estímulos que fazem com que as crianças não prestem atenção naquilo que estão comendo e não mastiguem corretamente, além de realizarem a refeição muito rápido. Assim, a criança perde a noção da quantidade de alimento que está consumindo e passa a comer mais do que necessário para saciar a fome. As refeições devem ser realizadas em ambiente calmo e aconchegante, longe de distrações, oportunizando maior vínculo familiar.
- Inclua as crianças no planejamento e preparo das refeições: os pequenos apreciam muito auxiliar nas tarefas da cozinha! As crianças podem ajudar a fazer a lista de gêneros alimentícios que há na despensa ou nos armários, colaborando com o planejamento das compras. Também podem participar do planejamento das refeições e no preparo de algumas receitas culinárias. Podem, inclusive, fazer pesquisa de receitas na internet, que utilizem os ingredientes disponíveis em casa. Preparar as próprias refeições, com ingredientes saudáveis/naturais, é uma importante ação de estímulo a hábitos alimentares adequados.
- Desenvolva estratégias para melhorar os hábitos alimentares das crianças: quando se realiza este tipo de atividade, o principal objetivo é desenvolver habilidades de clareza, comprometimento e autonomia. É preciso conversar com a criança sobre a importância dos alimentos e pedir ajuda dela para traçar metas para melhorar a alimentação. Exemplos de atividades: ter cinco cores no prato (alimentação colorida); comer três frutas ao dia (estimular o consumo, com troca de sabores); beber seis copos de água ao dia (para as crianças que não gostam, ou preferem sucos/refrigerantes); provar um legume/verdura novo por semana (estimular o consumo, com troca de sabores). Também é importante montar uma tabela e colocar em algum lugar de fácil visualização e todos os dias preencher junto com a criança, valorizando todos os pequenos progressos e estimulando a continuidade.
- Caso faça uso do método de contagem de carboidratos: aproveite esse período para treinar sobre as porções de alimentos. Converse com seu nutricionista e equipe de saúde 🙂
Referências:
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, 2019-2020.
Nascimento, AG et al. Educação Nutricional em Pediatria. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2018.
Sandra Maria Pazzini Muttoni
- Nutricionista e membro do Departamento de Nutrição da SBD (gestão 2020 – 2021)
- Nutricionista do Instituto da Criança com Diabetes (ICD) /Grupo Hospitalar Conceição
- Mestre em Ciências Pneumológicas - UFRGS
- Especialização em Nutrição Clínica – IPA/IMEC e em Terapia Nutricional Enteral e Parenteral - SBNPE
- Docente de Graduação e Pós-Graduação – FAMERCOSUL/SOGIPA e Faculdade iPGS
- Docente convidada de Pós-Graduação – UNISC
- Coordenadora e revisora técnica: área da Nutrição – SAGAH/GRUPO A
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