Uma das complicações mais prevalentes e mais problemáticas em pacientes diabéticos é o acometimento dos nervos. A neuropatia diabética costuma acometer de 30 a 50 por cento dos pacientes diabéticos em algum momento. O quadro clínico é variável e dependente dos nervos acometidos. A forma mais frequente é a polineuropatia sensório-motora distal, que costuma causar sintomas dolorosos nos pés. A dor deste tipo de neuropatia, em alguns casos, é de difícil tratamento apesar das diversas opções terapêuticas disponíveis. Considerando isso, um grupo de médicos da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, resolveu estudar o efeito terapêutico da maconha no combate à dor neuropática.
No estudo publicado na revista médica “Journal of Pain” no final do mês de julho de 2015, dezesseis pacientes diabéticos dos tipos 1 e 2 foram avaliados através de um ensaio clínico randomizado se o uso da maconha vaporizada poderia ajudar no controle dos sintomas dolorosos. Para que o estudo fosse feito, os pesquisadores usaram maconha de procedência certificada, ou seja, com quantidades conhecidas do princípio ativo delta-9-tetrahidrocanabinol (THC). Além disso, a maconha não foi fumada, mas vaporizada através de um aparelho chamado Volcano. Este vaporizador esquenta a maconha até 200 graus Celsius, fazendo com que sejam liberados os princípios ativos na forma de vapor que é nebulizado pelos participantes do estudo.
Durante as 4 horas que se seguiram à nebulização, foram avaliados os sintomas dolorosos e os possíveis efeitos adversos. O estudo mostrou que quanto maior a dose inalada, maior o potencial analgésico do vapor de maconha. Contudo, efeitos adversos com lentificação psicomotora e euforia também foram mais comuns com doses maiores.
O estudo é importante por evidenciar o potencial de uma nova classe terapêutica para uma condição de difícil tratamento. Contudo, os resultados ainda são preliminares, já que o grupo estudado foi muito pequeno e por período de tempo insignificante, ainda mais sabendo que o diabetes é uma doença crônica que requer tratamentos prolongados, ou seja, realmente seguros e eficazes. Logo, não vale fumar maconha para tratar dor nos pés. Até que mais estudos confirmem estes achados, tal abordagem pode trazer mais riscos do que benefícios.