Sociedade Brasileira de Diabetes elabora primeiro documento com orientações para a correta utilização do CGM por pacientes grávidas
A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) lança seu primeiro Posicionamento do ano. Com o tema “Monitoramento contínuo da glicose na gestação”, o documento analisa a possibilidade de realização do monitoramento contínuo da glicose (CGM) em tempo real ou por meio do sensor componente do sistema Flash®, com leitura intermitente, visando a aferição de flutuações nas taxas de glicose em mulheres grávidas e consequente apoio na escolha das condutas terapêuticas a serem recomendadas. Dado o fácil acesso de pacientes ao aparelho (o produto é comercializado em farmácias e drogarias), a SBD entendeu a necessidade de revisar a literatura sobre o tema e debater os prós e contras de sua utilização. Esse monitor é considerado um equipamento relevante para o controle glicêmico.
O Dr. Marcio Krakauer, do Departamento de Tecnologia, Saúde Digital e Telemedicina da SBD e um dos autores do posicionamento, aponta que o monitor é liberado pela ANVISA para uso em gestantes, o que gera demanda de especial cuidado e controle, pois nesta fase da vida da mulher, a variação da glicemia é grande em comparação a outros períodos. “Essa é uma questão que já está na prática clínica da maioria das mulheres grávidas com poder aquisitivo mais elevado. O produto é adquirido, as pessoas se antecipam utilizando, mas não existia um posicionamento ou direcionamento para usá-lo da melhor maneira – com segurança e eficácia durante o período da gestação”.
A importância do acompanhamento especializado
A facilidade para adquirir o monitor pode gerar a falsa sensação de segurança para que a mulher o utilize como método único para controle glicêmico – até mesmo em detrimento do acompanhamento médico – expondo-a a riscos. “Em geral, o sensor aponta índices glicêmicos mais baixos do que a glicemia capilar medida no sangue obtido na ponta do dedo. Se a mulher não souber fazer sua leitura correta, pode acabar administrando doses erradas de insulina”, explica o Dr. Krakauer. “Como a oferta do sistema é livre, o médico deve orientar a paciente sobre o uso correto”, complementa a endocrinologista Dra. Lenita Zajdenverg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, membro do Departamento de Diabetes na Gestação da SBD e responsável pela coordenação do Posicionamento. Dra. Lenita destaca que a indicação do uso do CGM durante a gestação pode ser muito útil em alguns casos. Gestantes em uso de insulina que apresentem episódios de hipoglicemia sem sintomas de alerta ou aquelas que têm muita variabilidade dos níveis de glicose ao longo do dia serão beneficiadas pelas informações obtidas do CGM. Nestes casos, os dados obtidos são de grande importância para a tomada de decisões terapêuticas adequadas.
O endocrinologista Dr. Carlos Antonio Negrato, Professor Doutor do Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru – Universidade de São Paulo (USP), defende que esse equipamento funciona como um complemento à medição por meio do teste de glicemia capilar – considerada ainda a melhor maneira de controle da glicemia. “A gestante não deve tentar controlar sua glicose unicamente pelo uso deste aparelho”, enfatiza.
Desafios à Democratização do Aparelho
O Dr. Negrato ainda aponta que o monitoramento contínuo da glicose (CGM) é um método caro para um País em desenvolvimento, como o Brasil. Segundo ele, isso torna a glicemia capilar a melhor escolha, podendo, ou não, ser acompanhada pelo GCM. Estratégias para ampliar o uso dessa nova métrica na prática médica brasileira, e em outros países em desenvolvimento e de renda média ainda são grandes desafios. Estudos de custo-benefício são necessários para ajudar a entender a possibilidade de se ter sensores e incluir a avaliação tempo no alvo glicêmico (time in range- TIR) na prática clínica em todo o País.