Diabetes e Doença Celíaca – Existe relação?

O diagnóstico de doença celíaca (DC) em pessoas com diabetes mellitus (DM) tipo 1 (DM1) é 20 vezes superior ao da população em geral e pode ser explicada por ambas compartilharem o mesmo mecanismo genético. Contudo, a associação entre o DM tipo 2 (DM2) e a DC não está estabelecida porque não há associação imunológica, sendo o surgimento destas doenças comparável ao do restante da população em geral.
A doença celíaca (DC) é uma disfunção intestinal auto-imune, ocasionada por hipersensibilidade e intolerância permanente ao glúten. Por isso, se diagnosticada, a pessoa deve restringir totalmente o glúten da alimentação.
O glúten é a combinação de dois grupos de proteínas (a gliadina e a glutenina) presentes naturalmente em cereais como o trigo, a aveia, o centeio, a cevada e o malte. No entanto, pela sua capacidade de dar viscosidade e consistência, além de reter o gás carbônico proveniente da fermentação, promovendo o aumento de volume desejado nas preparações, o glúten é utilizado na indústria de alimentos. Desta forma, é importante a pessoa com diagnóstico de DC de estar alerta para a frase “contém glúten” presente impressa nos rótulos de todos os alimentos ou bebidas, vendidos no país.
Também, é importante que não haja ingestão involuntária do glúten no dia-a-dia. Exemplos: uso do óleo de fritura no preparo de alimentos com glúten e depois reutilização em preparação isenta de glúten; utilização da mesma faca para passar margarina em pão com glúten e depois passar em bolacha sem glúten; usar tabuleiros ou formas polvilhadas com farinha de trigo e depois reutilizá-las para os produtos sem glúten, sem que tenham sido bem lavadas; rótulos de alimentos que não estão em conformidade com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Em conclusão, se diagnosticada a DC, mesmo nos casos assintomáticos (quando não há sintomas físicos, mas há alterações sorológicas e histológicas da mucosa do intestino delgado compatíveis com a doença) o tratamento nutricional deve ser iniciado o quanto antes.
Na maioria dos casos, os sintomas desaparecem dentro de poucas semanas após iniciada a exclusão total do glúten da dieta. Nos casos assintomáticos, a pessoa observará melhora do controle glicêmico e da qualidade de vida com a retirada do glúten do plano alimentar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  1. Kylokas A, Kaukinen K, Huhtala H, Collin P, Maki M, Kurppa K. Type 1 and type 2 diabetes in celiac disease: prevalence and effect on clinical and histological presentation. BMC Gastroenterol. 2016;16(1):76.
  2. Sanchez JC, Cabrera-Rode E, Sorell L, Galvan JA, Hernandez A, Molina G, et al. Celiac disease associated antibodies in persons with latent autoimmune diabetes of adult and type 2 diabetes. Autoimmun. 2007;40(2):103-7.
  3. Hagopian W, Lee HS, Liu E, Rewers M, She JX, Ziegler AG, et al. Co-occurrence of Type 1 Diabetes and Celiac Disease Autoimmunity. Pediatrics. 2017;140(5).
  4. Kozhakhmetova A, Wyatt RC, Caygill C, Williams C, Long AE, Chandler K, et al. A quarter of patients with type 1 diabetes have co-existing non-islet autoimmunity: the findings of a UK population-based family study. Clin Exp Immunol. 2018;192(3):251-8.
  5. Pham-Short A, Donaghue KC, Ambler G, Chan AK, Craig ME. Coeliac disease in Type 1 diabetes from 1990 to 2009: higher incidence in young children after longer diabetes duration. Diabetic Med. 2012;29(9):e286-9.
  6. Wahab PJ, Meijer JW, Mulder CJ. Histologic follow-up of people with celiac disease on a gluten-free diet: slow and incomplete recovery. Am J Clin Pathol. 2002;118(3):459-63.
Dra. Débora Lopes Souto
  • Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica pela Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN). 
  • Doutora em Ciências Nutricionais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
  • Mestre em Nutrição Humana pela UFRJ.
  • Pós-doutora pela Faculdade de Medicina da UFRJ 
  • Pesquisadora no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ
  • Membro do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)

    Instagram para COLAB: @deboralopessouto