“IESHA, uma jovem americana três dias antes de seu aniversário de 21 anos foi diagnosticada com diabetes e tendo que escolher entre aluguel, alimentos e medicamentos decidiu-se por racionar o suprimento de insulina. Sentindo-se como ela disse, morrendo lentamente, acabou em coma”
Presidente Joe Biden – USA – Dezembro 2021 – Comentários para a mídia.
O Senhor Presidente dos Estados Unidos da América entrou no debate da diabetologia em dois temas sensíveis: o Racionamento de Insulina e o Custo da Insulina.
Estima-se que pelo menos um quarto dos 8 milhões de americanos vivendo com diabetes e que dependem de insulina a racionam diariamente sob as formas de omissão ou redução das doses, adaptando-se às disponibilidades.
No Brasil embora saibamos que exista, o racionamento nunca é abordado com o paciente nem considerado como causa de insucesso terapêutico.
Em todo o mundo o racionamento de insulina ocorre em proporções incertas, por motivos variados incluindo custos envolvidos. Naturalmente é mais frequente em países com rendas, baixa, baixa-média e média. Paradoxalmente os Estados Unidos da América, um país de renda alta tem proporções elevadas de racionamento, pelo alto custo da insulina.
Os Estados Unidos têm a insulina mais cara do mundo em estudo da RAND Corporation que comparou o preço de um simples frasco de insulina em 33 países com rendas semelhantes: Austrália $6.94, UK $7.52, Japão $14.40, Chile $21.48 e USA $98.70.
Os preços de varejo no mercado americano da Humalog, Novolog e Lantus são em média $300.00 por frasco. Uma pessoa com DM1, geralmente requer dois a três frascos de insulina por mês o que representa um custo anual próximo a $12.000. Estes análogos correspondem a 90% do consumo de insulina no país.
As consequências do racionamento de insulina, que não deve ser subestimado sua existência, quaisquer que sejam as causas, são: perda de anos de vida saudáveis, complicações agudas representadas por hiperglicemias, cetoacidose, coma e morte. A longo prazo as complicações neurológicas, renais e cardiovasculares resultam em invalidez e mortes com redução de anos de vida saudáveis e expectativa de vida.
Em seus Comentários para a mídia em dezembro de 2021 o Presidente Joe Biden falou ainda sobre duas irmãs que compartilhavam insulina do mesmo frasco e concluiu. “Que vergonha para nós como nação se não pudermos fazer melhor do que isso”
Dois artigos foram publicados em 11 e 19 de janeiro 2023 nas revistas Lancet Diabetes Endocrinology e JAMA Published online, respectivamente. O Lancet trata dos custos da insulina e da complexa política de preços de um país liberal e de livre mercado, que não se regula. O JAMA, curiosamente, trata da iniciativa do Estado da Califórnia em criar uma estatal, a CalRx, com a finalidade de produzir e distribuir um Biossimilar de insulina a custo acessível a sua população de baixa renda. Naturalmente observando as questões regulatórias de medicamentos da mesma forma que questões de mercado.
O tema chegou ainda à Plataforma de Streaming NETFLIX com o filme, “Continência do Amor”, a história de uma jovem, com DM1 que vive em Oceanside, Califórnia. Trabalha a noite em um bar como garçonete, toca piano e canta como vocal de uma banda. Sobrevive deste trabalho a noite e durante o dia trabalha com deliveries e dá aulas de piano. Seu Seguro Saúde está vencido e necessita comprar dois frascos de insulina a um custo total de $570.00 o que cobre suas necessidades durante alguns dias do mês. Resta-lhe reduzir as doses.
Referências.
Talha Burki. Hot topics on insulin access: pricing in the USA.
Lancet Diabetes Endocrinol 2023 Published Online January 11, 2023
https://doi.org/10.1016/S2213-8587(23)00006-2
Jacob S. Sherkow, JD, MA et al. Assessing and Extending California´s Insulin Manufacturing Initiative. JAMA Published Online:January 19, 2023. doi:10.1001/jama.2023.0013
Elizabeth Pfiester et al. Costs and underuse of insulin and diabetes supplies: Findings from the 2020 T1International cross-sectional web-based survey. Diabetes Research and Clinical Practice. Published:August 04, 2021. DOI:https://doi.org/10.1016/j.diabres.2021.108996
Dr. Laerte Damaceno
- MD
- Endocrinologista
- Coordenador do site e redes sociais da SBD.
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