Câncer e síndrome metabólica

Nos últimos anos, tem-se observado um aumento alarmante na prevalência da síndrome metabólica em populações orientais. Este fenômeno é em grande parte atribuído à crescente influência da cultura ocidental sobre os estilos de vida e padrões alimentares. Em um mundo onde as doenças metabólicas e o diabetes tipo 2 costumavam ser associados predominantemente a países ocidentais, essa mudança de paradigma é preocupante e requer uma análise mais aprofundada.

A síndrome metabólica é uma condição complexa caracterizada por um conjunto de alterações, que incluem o acúmulo de gordura na região abdominal, hipertensão arterial, elevação dos níveis de glicose no sangue e dislipidemia, principalmente triglicerídeos e colesterol. Estudos indicam que aproximadamente um terço dos adultos americanos e cerca de um quarto da população brasileira são afetados por essa condição. Além disso, a síndrome metabólica está intimamente ligada a um aumento significativo no risco de uma variedade de doenças, tais como diabetes tipo 2, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), cirrose hepática gordurosa e Alzheimer.

Recentemente, um estudo publicado na renomada Revista Câncer em março de 2024 trouxe à luz uma nova associação preocupante:
a ligação entre síndrome metabólica e câncer.
Diversos mecanismos foram propostos para explicar essa relação, incluindo o papel do excesso de insulina na proliferação celular.
Os resultados indicaram uma correlação direta entre os índices da síndrome metabólica e a incidência de câncer, destacando o câncer de reto como o mais comum entre os afetados.

É crucial ressaltar que o diagnóstico precoce e o manejo eficaz da síndrome metabólica são fundamentais não apenas para o tratamento da condição em si, mas também para a prevenção de complicações a longo prazo, incluindo o desenvolvimento de vários tipos de câncer. Identificar e tratar a síndrome metabólica, especialmente em pacientes com marcadores inflamatórios elevados, pode desempenhar um papel importante na redução do risco e na promoção da saúde metabólica e geral da população.

Em resumo, a relação entre síndrome metabólica e câncer destaca a necessidade de abordagens integradas e multifacetadas para enfrentar essas condições de saúde pública emergentes. A pesquisa contínua nessa área é essencial para desenvolver estratégias eficazes de prevenção e tratamento, visando mitigar os impactos devastadores dessas doenças na saúde global.

Luciano Giacaglia
Endocrinologista

Material extraído do podcast SBD para público, Para ouvir o podcast, clique aqui