COLUNA VERDADEIRO OU FALSO #35 O Diabetes pode apresentar relação com transtornos alimentares?

São Paulo, setembro de 2020. Os transtornos alimentares são distúrbios caracterizados por alterações no comportamento alimentar que são acompanhados de problemas físicos e psíquicos. Os mais conhecidos são: Anorexia Nervosa (AN), Bulimia Nervosa (BN) e Transtorno da compulsão alimentar (TCA).

Nos jovens com Diabetes tipo 1, os transtornos alimentares são duas a três vezes mais frequentes, sendo a bulimia nervosa, o mais comum. No que se refere ao Diabetes tipo 2, o transtorno alimentar mais frequente é o de compulsão alimentar, que atinge até 34,8% das pessoas.

O transtorno Alimentar no Diabetes
No Diabetes existe um transtorno chamado Diabulimia, que se refere ao comportamento de pular ou deixar de tomar as doses de insulina com o objetivo de perder peso. O resultado é a eliminação de calorias por meio da urina.

Esse distúrbio é mais comum entre pré-adolescentes, adolescentes e jovens adultos que possuem Diabetes tipo 1, pois quando a pessoa começa a tomar a insulina, muitas vezes ocorre a recuperação do peso perdido.

As pessoas com diabetes geralmente não conseguem basear suas escolhas apenas em sinais e desejos convencionais de fome, pois precisam de alimentos para ajudar a equilibrar os níveis de glicose no sangue. Isso tudo pode causar uma insatisfação com o peso e imagem corporal, levando a pessoa a querer manipular a dose de insulina na tentativa de perder peso.

A Dra. Claudia Pieper, mestre e doutora em endocrinologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Endocrinologia da PUC-RIO e membro do Departamento de Educação em Diabetes da SBD, fala que essa atitude pode ser um risco à saúde do paciente: “A diabulimia pode causar uma descompensação aguda da glicose, conhecida com o nome de cetoacidose diabética, levando a internações de emergência e, também, trazendo risco de vida”, comenta Claudia.

“A hemoglobina glicada (média da glicemia nos últimos três meses), por sua vez, acaba ficando sempre alta, com níveis na maioria das vezes acima de 10% (meta de bom controle: menor ou igual a 7%)”, completa a especialista, que ainda conta que, com o passar dos anos, esse distúrbio alimentar pode causar complicações crônicas precoces, sobretudo, microvasculares, como a retinopatia, a nefropatia e a neuropatia diabética.

Existe uma forma de prevenir ou tratar esse distúrbio?

A Dra. Claudia Pieper explica sobre a importância de os familiares ficarem atentos a alguns sinais, entre eles:

  • Sintomas depressivos, incluindo o humor triste
  • Baixa de energia
  • Falta de concentração
  • Cansaço fácil
  • Recusa a comer nos horários
  • Resistência ao ato de aplicar insulina na frente de outras pessoas
  • Diabetes sempre mal controlado

O tratamento é feito por meio de equipe multidisciplinar treinada em transtornos alimentares e diabetes, composta por endocrinologista, psicoterapeuta especializado em terapia cognitiva comportamental, nutricionista e psiquiatra.

É necessário atendimento semanal do paciente e de seus responsáveis, tanto pelo psicólogo quanto pelo nutricionista, além do acompanhamento do endocrinologista para orientação do tratamento do diabetes.

“A educação em diabetes é uma das chaves para evitar o descontrole do peso e dos níveis de glicose no sangue”, enfatiza a Dra. Claudia, que completa: “A melhor forma é conversar com seu médico sobre suas ansiedades ou angústias em relação ao tratamento. O mais importante é não desistir e saber que diabulimia tem cura, mas é necessário acompanhamento e tratamento por profissionais treinados em transtorno alimentar”.