Diabetes e doença de Alzheimer: uma interação de risco

A doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência em idosos. Trata-se de uma doença cerebral neurodegenerativa, progressiva e sem cura que destrói gradualmente áreas cerebrais responsáveis pela capacidade de memória, aprendizagem, raciocínio, julgamento e comunicação.  Como consequência, a doença de Alzheimer prejudica o paciente em suas atividades de vida diária e em seu desempenho social e ocupacional.

O diabetes mellitus e a doença de Alzheimer são condições relacionadas com a idade e ambas são caracterizadas por aumento de incidência e de prevalência ao longo do envelhecimento. O diabetes tem sido fortemente associado ao declínio cognitivo e ao risco aumentado de desenvolver todos os tipos de demência, incluindo a doença de Alzheimer. Assim, o envelhecimento é conhecido por ser um dos principais fatores de risco destas duas doenças.

Atualmente evidências indicam uma forte ligação entre o diabetes do tipo 2 e a doença de Alzheimer. O diabetes causa neurodegeneração induzindo mudanças na função e na estrutura vascular, no metabolismo da glicose, na sinalização celular da insulina, bem como modificações no metabolismo da proteína beta-amiloide. Por outro lado, a doença de Alzheimer é o distúrbio neurodegenerativo mais comum, marcado pela presença de várias características patológicas, incluindo perda de neurônios, formação de placas senis compostas por depósitos extracelulares da proteína beta-amiloide, emaranhados neurofibrilares intracelulares compostos por proteínas tau agregadas no cérebro, proliferação de astrócitos e ativação da microglia. Tais características são acompanhadas por disfunção mitocondrial e alterações nas sinapses neuronais.

Os mecanismos fisiopatológicos relacionados à causa e ao mecanismo exato que desencadeia as alterações da doença de Alzheimer ainda não são bem esclarecidos, mas a maioria dos estudos sugerem que o depósito do peptídeo beta-amiloide causado por um processamento anormal da proteína precursora beta-amiloide (hipótese de cascata amiloide) possa iniciar e / ou contribuir com a patogênese do Alzheimer. Além disso, a doença de Alzheimer influencia o metabolismo sistêmico da glicose ao induzir mudanças comportamentais, distúrbios de memória, disfunção hipotalâmica, fragilidade, entre outras.

A hipoglicemia é uma das principais condições encontradas durante o tratamento de pacientes com diabetes e também pode contribuir com a neurodegeneração. Diante disto, através deste círculo vicioso, o diabetes e a doença de Alzheimer podem cooperar entre si no processo de neurodegeneração cerebral. Diversos fatores moleculares, celulares, físicos e clínicos podem contribuir com as interações bidirecionais entre o diabetes e a doença de Alzheimer. Neste sentido, a exploração de um fator determinante no processo de interações bidirecionais poderia levar ao desenvolvimento de um potencial alvo terapêutico para a neurodegeneração em pessoas com diabetes.

Numa pesquisa recente, foram reunidos os dados de vários estudos de coorte do diabetes e da doença de Alzheimer e uma metanálise contendo 1.746.777 indivíduos para investigar as evidências que relacionam o diabetes como um fator de risco para o desenvolvimento da doença de Alzheimer. Os resultados da pesquisa mostraram que o risco de desenvolver a doença é maior entre as pessoas com diabetes do que na população geral, especialmente nas populações orientais. Além disto, as evidências epidemiológicas e biológicas suportam a ligação entre estas duas doenças. Portanto, as medidas de tratamento necessárias devem ser tomadas para diminuir o risco da doença de Alzheimer em pessoas com diabetes. 

Referências

DIEHL, Thomas; MULLINS, Roger; KAPOGIANNIS, Dimitrios. Insulin Resistance in Alzheimer’s Disease. Translational Research, 2016. 

SHINOHARA, Mitsuru; SATO, Naoyuki. Bidirectional interactions between diabetes and Alzheimer’s disease. Neurochemistry International, 2017. 

ZHANG, Jieyu et al. An updated Meta-Analysis of cohort studies: diabetes and risk of Alzheimer’s disease. Diabetes Research and Clinical Practice, 2016. 

Dr. Edson da Silva
  • Doutor em Biologia Celular e Estrutural Universidade Federal de Viçosa (UFV)
  • Docente da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)