Dr. Ruy de Oliveira Pantoja Filho
Endocrinologista homenageado na cerimônia de inauguração da SBD Regional Maranhão
Em 1985, com bolsa do governo japonês (JICA), passei quatro meses no Japão visitando todos os serviços de Diabetes. Aprendi muito, entre outras noções, a de que o tratamento do DM2 deveria mimetizar o da tuberculose ou da hanseníase. Essas são doenças onde a associação de drogas comandam o esquema terapêutico ideal: a chamada PQT (PoliQuimioTerapia). Portanto, já há 40 anos, tal conceito permeava as prescrições dos pacientes com diabetes naquele país. Já há 40 anos o “octeto” de DeFronzo, antes de sua publicação e farto conhecimento pela população, já era utilizado no dia a dia! Em que pese a baixa prevalência de DM1 no Japão, e até por isso mesmo, conversávamos também sobre esse tipo da doença. Comparávamos com a sua incidência na península escandinava e a existência da sazonalidade em certos países. Ao retornar ao Brasil, revi colegas da UFRJ, onde me formei em 1972, e do IEDE, local da especialização em Endocrinologia. Reencontrei o famoso Dr. Rogério Oliveira (Hospital da Lagoa), DM1 há mais de 50 anos, sem complicações, e, por isso, detentor de medalha da Clínica Joslin. Ele me convidou a participar, logo naquele julho de 1985, de uma Colônia de Férias para DM1 em Petrópolis. Fui juntamente com o Dr. Nunes, também do Hospital da Lagoa. Divididas as crianças entre os médicos, eu “assumi” 10 pacientes. Marcou-me, de maneira indelével, a experiência. Mais conversas e discussões sobre a sazonalidade da doença. Ao chegar ao Maranhão iniciei tratativas para realizar uma Colônia de Férias aqui. Foi um sucesso, tendo contado com a preciosa ajuda do nosso colega de especialidade Prof. Dr. João Furtado. Foi a primeira e única Colônia de Férias para DM1 por aqui! Ao longo dos anos, no Estado, observei que o surgimento de casos novos de DM1 era maior entre os meses de setembro a janeiro. No final da década de 80, numa sessão clínica do Hospital Universitário da UFMA, expus essa minha observação; eu não sabia a que atribuí-la. Foi então que, apesar do descrédito de outros colegas na sessão, surgiu uma hipótese. O professor Carlos Borges, iniciador da Diabetologia no Estado, sugeriu ligação com o período de ventos fortes, tão típicos aqui da região nesses meses. Talvez pudessem trazer “antígenos-gatilho” da África, ou de outros continentes, funcionando como despertadores da diátese imunológica, típica da doença. Não se seguiu qualquer pesquisa neste assunto. Há uma semana, dia 30 de novembro de 2023, foi fundado o capítulo maranhense da Sociedade Brasileira de Diabetes. Sob a presidência nacional do nosso Dr. Levimar Araújo, os passos aqui no Estado foram capitaneados pelo Dr. Wellington Santana, tendo assumido a presidência e diretoria os colegas Dr. Marcos Neres, Dra. Caroline Louisie, Dra. Állin Lauren e Dra. Roberta Duailibe. Certamente se reacenderão discussões sobre a sazonalidade do DM1, Colônia de Férias e PoliQuimioTerapia no DM2. Com a SBD-MA, os novos “ventos” chegam para arejar novas ideias, trazendo saúde e novas possibilidades para abordagem dessa doença tão prevalente em todas as classes sociais. Ainda mais porque os “ventos” de setembro a janeiro continuam os mesmos, no mesmo lugar e com a mesma intensidade, aguardando uma “visita” científica.