Transtornos alimentares em DM2

Estudos revelam que até 20% dos pacientes com diabetes tipo 2 apresentam algum tipo de transtorno alimentar, sendo a compulsão alimentar o mais comum entre eles. Este artigo busca explorar a prevalência, características e abordagens de tratamento para a compulsão alimentar em pacientes com diabetes tipo 2, destacando a importância da identificação precoce e intervenção eficaz.

  O que é?

A compulsão alimentar é caracterizada por episódios recorrentes de ingestão excessiva de alimentos, acompanhados por uma sensação de falta de controle e sentimentos de culpa ou remorso. Estes episódios podem estar relacionados a fatores emocionais, como estresse, ansiedade ou depressão, e são frequentemente desencadeados por estados emocionais negativos ou situações de estresse.

Para que seja diagnosticado um transtorno de compulsão alimentar, é necessário que esses episódios ocorram com frequência mínima de uma vez por semana ao longo de três meses e causem sofrimento significativo ao indivíduo. É importante ressaltar que o transtorno de compulsão alimentar não está associado a comportamentos compensatórios, como vômitos ou uso de laxantes, que caracterizam a bulimia nervosa. 

Pode ser até casos leves, uma a três vezes por semana, até casos extremos, de mais de duas vezes ao dia. Muitas vezes a compulsão alimentar é desencadeada por um estado emocional negativo, problemas nos relacionamentos ou quando a pessoa chega em casa à meia-noite depois de passar por várias tensões durante o dia e pensa ‘eu mereço’, e abre mão do controle alimentar.

O tratamento da compulsão alimentar em pacientes com diabetes tipo 2 é complexo e multidisciplinar, envolvendo abordagens psicoterapêuticas, farmacológicas e mudanças no estilo de vida. Muitas vezes as pessoas não procuram tratamento por preconceito, achando que podem melhorar apenas com força de vontade. Só força de vontade não adianta se a pessoa não tem as ferramentas adequadas para se tratar.

Terapias cognitivo-comportamentais, terapia interpessoal e terapia comportamental dialética são algumas das opções de intervenção psicoterapêutica que têm se mostrado eficazes na redução dos episódios de compulsão alimentar, bem como no tratamento de sintomas ansiosos e depressivos associados.

Além da psicoterapia, o uso de medicamentos pode ser considerado em alguns casos. O topiramato é o único medicamento aprovado especificamente para o tratamento da compulsão alimentar, embora outros medicamentos, como antidepressivos, também possam ser prescritos para ajudar a controlar os sintomas. É importante ressaltar que o tratamento farmacológico deve ser individualizado e supervisionado por um médico especialista.

Muitos pacientes com diabetes tipo 2 e compulsão alimentar enfrentam desafios significativos para acessar o tratamento adequado devido a estigmas sociais, falta de conscientização e preocupações sobre dependência de medicamentos. É crucial que esses obstáculos sejam reconhecidos e abordados por profissionais de saúde, a fim de garantir que os pacientes recebam o suporte necessário para gerenciar sua condição de forma eficaz.

Em conclusão, a compulsão alimentar representa um desafio significativo para pacientes com diabetes tipo 2, exigindo uma abordagem integrada e multidisciplinar para identificação, tratamento e prevenção de complicações associadas. A conscientização sobre essa questão e o acesso a recursos de tratamento adequados são fundamentais para melhorar os resultados de saúde e o bem-estar geral desses pacientes.

Rodrigo Huguet
Psiquiatra

Material extraído do podcast SBD para público, Para ouvir o podcast, clique aqui