Consumo de café e impacto na hipertensão arterial

A hipertensão, uma condição caracterizada pela elevação crônica da pressão arterial, é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares e morte prematura em todo o mundo. Com a crescente prevalência da hipertensão, entender os fatores dietéticos que contribuem para o controle da pressão arterial torna-se fundamental. O consumo de café, uma das bebidas mais populares globalmente, tem sido amplamente discutido devido aos seus potenciais efeitos sobre a saúde cardiovascular, especialmente em relação à hipertensão.

Embora o café seja uma fonte rica em compostos bioativos, como a cafeína, que pode influenciar a pressão arterial, os efeitos de seu consumo sobre a saúde têm sido amplamente debatidos. Alguns estudos sugerem que o café pode aumentar temporariamente a pressão arterial, enquanto outros indicam que o consumo moderado pode não ter efeitos adversos significativos ou até apresentar benefícios. Neste texto vamos analisar e discutir três estudos recentes que investigam a relação entre o consumo de café e a hipertensão, destacando seus achados, implicações para a saúde pública e recomendações práticas.

1. O impacto do consumo de café na hipertensão

Syarif e Mivtahurrahimah (2024) investigaram a relação entre o consumo de café e a hipertensão em diversas populações ao redor do mundo. A meta-análise de estudos transversais, encontrou uma associação significativa entre o consumo de café e o aumento do risco de hipertensão, com um aumento de 58% no risco entre os consumidores de café. A cafeína, principal composto ativo do café, é conhecida por aumentar temporariamente a pressão arterial, e os pesquisadores sugerem que padrões de consumo elevados podem contribuir para a prevalência de hipertensão. Eles destacam que, apesar da popularidade global do café, os programas de prevenção à hipertensão devem considerar a regulação do consumo dessa bebida, dado seu impacto potencial na pressão arterial.

Entretanto, as evidências não são unânimes. Um estudo realizado por Shah et al. (2023), analisado por Syarif e Mivtahurrahimah, apontou que, em algumas populações, o consumo moderado de café não estava associado a um aumento significativo no risco de hipertensão. Isso sugere que a resposta ao café pode ser moderada por fatores genéticos, de estilo de vida e ambientais. Além disso, o impacto do café sobre a pressão arterial pode ser temporário, com algumas pessoas desenvolvendo uma tolerância aos efeitos da cafeína ao longo do tempo.

Outro ponto relevante discutido no estudo é a heterogeneidade observada entre os resultados dos estudos analisados, o que aponta para a necessidade de mais investigações, especialmente considerando diferentes padrões dietéticos, níveis de atividade física e predisposição genética.

2. O papel do café descafeinado no controle da hipertensão

Embora o café regular tenha sido associado ao aumento da pressão arterial em alguns estudos, o café descafeinado tem sido apontado como uma alternativa mais segura para pessoas com hipertensão. O estudo de Palupi e Fatimah (2021) realizou uma revisão sistemática sobre os efeitos do café descafeinado no risco de hipertensão. Os resultados sugerem que o café descafeinado pode ter um impacto neutro ou até benéfico na redução da pressão arterial, comparado ao café regular. Isso ocorre porque o processo de descafeinação reduz significativamente a quantidade de cafeína, o principal responsável pelos aumentos agudos da pressão arterial.

Embora o café descafeinado contenha compostos bioativos, como polifenóis e ácidos hidrocínamicos, que podem ter efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, seus efeitos sobre a pressão arterial são mais modestos. A revisão indicou que, em muitos casos, o café descafeinado não afetou significativamente a pressão arterial ou outros marcadores biológicos de hipertensão, quando comparado ao consumo de café regular. Para indivíduos que têm intolerância à cafeína ou que sofrem de hipertensão, o café descafeinado pode ser uma opção viável para continuar consumindo café sem os efeitos adversos da cafeína.

3. Considerações sobre os efeitos do consumo de café na hipertensão

Os estudos discutidos apresentam evidências de que o consumo de café pode afetar a pressão arterial de maneiras distintas. O café regular, especialmente em grandes quantidades, pode aumentar o risco de hipertensão devido à cafeína, embora o consumo moderado tenha efeitos limitados na pressão arterial em algumas populações. Por outro lado, o café descafeinado oferece uma alternativa mais segura para aqueles que não desejam abrir mão do hábito de consumir café, mas precisam controlar sua pressão arterial.

É importante notar que os efeitos do café sobre a hipertensão podem variar dependendo de fatores individuais, como genética, níveis de atividade física e dieta. Indivíduos que consomem café de maneira moderada, principalmente em populações saudáveis, podem não experienciar um aumento significativo na pressão arterial. No entanto, para aqueles com hipertensão ou que são particularmente sensíveis à cafeína, o consumo de café pode ser um fator de risco relevante, exigindo controle.

Considerações

Os profissionais de saúde devem considerar esses achados ao recomendar mudanças na dieta para pacientes hipertensos, incentivando a moderação no consumo de café e explorando os benefícios do café descafeinado como parte de uma estratégia de prevenção e controle.

Além disso, é essencial que os estudos futuros investiguem mais profundamente os efeitos do café em diferentes populações, levando em conta fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida. O café pode continuar a ser uma bebida popular em muitas culturas, mas seu consumo deve ser monitorado, especialmente em pessoas com hipertensão, para garantir que ele não contribua para a elevação da pressão arterial e para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares associadas.

Referências

Palupi NS, Fatimah F. O papel do café descafeinado na redução do risco de hipertensão: uma revisão sistemática. Journal of Functional Food and Nutraceutical. Publicado on-line em 26 de fevereiro de 2021:99-116. doi:10.33555/jffn.v2i2.60

Syarif S, Mivtahurrahimah M. A relação entre beber café e hipertensão em vários países: revisão sistemática e meta-análise. Jurnal Info Kesehatan. ​​2024;22(1):16-23. doi:10.31965/infokes.vol22.iss1.1438

Zhang S, Xiang B, Su X, Zhou Y, Zhao Y, Zhou X. O consumo de café, chá e vinho tinto é benéfico para indivíduos com hipertensão? Revista médica de pós-graduação. 2024;100(1186):603-610. doi:10.1093/postmj/qgae039

Dra. Silvia Ramos
  • Nutricionista - Centro Univarsitário São Camilo
  • Especialista em Saúde  Pública  FSP/USP
  • Especialista em Nutrição Materno Infantil EPM/UNIFESP
  • Doutora em Ciências da Saúde EPM/UNIFESP
  • Educadora em Diabetes ADJ/SBD/IDF-SACA
  • Membro do Departamento de Nutrição da  SBD
  • Membro de SBD - Regional SP
  • Membro do Grupo de Educação e Controle do Diabetes GECED - EPM/UNIFESP
  • Coordenadora e docente de cursos de graduação e pós-graduação em nutrição. (Insira Educacional, FAMESP, Universidade Anhembi Morumbi, Sírio Libanês)
  • Nutricionista na ADJ Brasil -Coordenadora de Nutrição Clínica do Acampamento - ADJ/NR
  • Nutricionista em consultório multidisciplinar desde 2000