O estudo recém publicado na revista ABCD (Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva) intitulado: “Efeito da suplementação perioperatória com probióticos na cicatrização de feridas cutâneas em ratos diabéticos” aborda o efeito do uso de probióticos no processo cicatricial do Diabetes Mellitus (DM).
A cicatrização cutânea se caracteriza por processo dinâmico que envolve uma rede complexa de interações extracelulares, mediadores químicos e células locais e inflamatórias. Este processo tem como objetivos principais a restauração da integridade tecidual e a manutenção da homeostasia. O processo de cicatrização envolve três fases sequenciais que se relacionam de maneira dinâmica e não individualizadas: fase inflamatória, fase proliferativa, fase de formação do tecido conjuntivo e a fase de contração e fase final de remodelamento.
Pacientes com DM apresentam prejuízo na cicatrização pelo desequilíbrio da resposta inflamatória, com acúmulo prolongado de células inflamatórias e produção excessiva de citocinas inflamatórias, alteração na síntese de colágeno e redução da força tênsil, podendo persistir na fase inflamatória e não progredir para as próximas fases da cicatrização de feridas. Estes fatores associados resultam em redução da resistência da ferida e deiscência que, somado ao grande risco de infecções neste grupo, resultam em aumento do tempo hospitalização e da taxa de mortalidade. A transição do estágio inflamatório para o proliferativo na cicatrização de feridas é tema de pesquisa atual intensiva, e a regulação sistêmica da inflamação desempenha papel importante nesta etapa.
A relação entre o processo de cicatrização e a interação com a microbiota da pele já está bem estabelecida. Estudos recentes sugerem que, além da interação com a microbiota local, alterações na microbiota intestinal também podem afetar positivamente ou negativamente o processo de cicatrização de feridas, pela produção de moléculas antimicrobianas e pela regulação da resposta imune e inflamatória. O eixo proposto por Arck et al como “eixo cérebro-intestino-pele” propõe que a modulação da microbiota intestinal pode melhorar a resposta imune sistêmica e afetar respostas teciduais periféricas.
O citado artigo teve como objetivo avaliar a influência da suplementação perioperatória com probióticos no processo de cicatrização cutânea em ratos diabéticos. No estudo, 46 ratos foram divididos em 4 grupos (C3, P3, C10, P10) conforme tratamento recebido (P: Probiótico – Probiatop®, 250mg/dia, via oral) ou controle (C: maltodextrina, 250mg/dia, via oral) e dia de eutanásia: 3o ou 10o dia de pós-operatório. Todos os ratos foram induzidos ao DM 72 horas antes de iniciar o experimento com Aloxana (40mg⁄kg, via veia caudal). A suplementação foi iniciada 5 dias antes da cirurgia e mantida até a eutanásia. Foi realizada incisão quadrada com punch de 2x2cm e a ferida foi deixada para cicatrizar por segunda intenção. As feridas foram medidas digitalmente para cálculo da área da ferida. A densitometria de colágeno foi determinada com coloração Picrosirius Red e analisada com software Image-Pro-Plus 4.5. A histologia foi avaliada por coloração com Hematoxilina-Eosina (HE).
Os resultados do estudo foram que a contração da ferida foi maior no grupo P10 quando comparado com o grupo C10, o que resultou em menor área cruenta (832±187 vs 1092±250mµ2, p=0,011). Houve aumento do colágeno tipo I do 3o para o 10o dia de PO no grupo de recebeu probióticos (p=0,016), o que não ocorreu no grupo controle (p=0,487). A análise do escore histológico final por HE mostrou melhor grau de cicatrização no grupo P10 quando comparado com C10 (P10=3 vs. C10=0, p=0,005), com menos polimorfonucleares (p<0,001) e mais neovasos (p=0,001).
Os autores concluíram que a suplementação perioperatória de probióticos promove aceleração da cicatrização cutânea em ratos diabéticos, possivelmente por atenuar a resposta inflamatória e aumentar a neovascularização e a deposição de colágeno tipo I.
Campos LF, Tagliari E, Casagrande TAC, Noronha L, Campos ACL, Matias JEF. Effects of probiotics supplementation on skin wound healing in diabetic rats. ABCD Arq. Bras. Cir. Dig. 2020; 33(1)1-4.
Dra Leticia Fuganti Campos
- Nutricionista;
- Doutora em Clínica Cirúrgica pela U;
- Mestre pela Faculdade de Medicina da USP;
- Especialista em Nutrição Clínica pelo GANEP e em Educação em Diabetes pela UNIP Treinamento no Joslin Diabetes Center - Harvard;
- Membro do Comitê de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes;
- Presidente do Comitê de Nutrição da BRASPEN;
- Preceptora da Residência em Endocrinologia na Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná;
@leticiafuganticampos
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