Os transtornos alimentares (TA) são caracterizados por alterações severas no hábito ou no comportamento alimentar, com impacto significativo sobre a saúde física ou o funcionamento psicossocial (1).
Em pessoas com diabetes mellitus (DM), a presença de TA pode interferir diretamente no controle metabólico, aumentando as complicações dessa condição clínica (2,3). A natureza crônica do DM é apontada como um dos fatores predisponentes para o desenvolvimento de distúrbios alimentares, uma vez que pensamentos obsessivos sobre a alimentação, somados à insatisfação com a imagem corporal e aos desafios do autocuidado – especialmente em adolescentes – podem ser gatilhos para o surgimento de TA (4,5).
As atuais Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (6) trazem o assunto com classe de recomendação e nível de evidência para a prática clínica. O documento cita os principais tipos de TA prevalentes na população com DM que, inclusive, também são os mais prevalentes na população sem DM: a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno de compulsão alimentar (1,7). Além disso, destaca que a bulimia nervosa é o transtorno alimentar mais frequente em jovens com diabetes tipo 1, podendo ocorrer em cerca de 30% das meninas (1% na faixa etária de 9 aos 13 anos, 14% na faixa de 12 aos 18 anos e 34% na faixa de 16 aos 22 anos).
Também conhecida como diabulimia, a bulimia nervosa purgativa caracteriza-se pela alteração deliberada da dose de insulina, diminuindo a dose ou deixando de usá-la com o objetivo de perder peso corporal. Esta pode ocorrer também de forma concomitante com a prática de vômitos, uso de laxantes, enemas e/ou diuréticos (1,6)
O documento traz seis recomendações voltadas aos profissionais de saúde, sendo a primeira delas sobre a importância da equipe estar atenta aos sinais de alerta para presença de TA em pessoas com DM, especialmente em adolescentes e jovens com DM tipo 1, em razão da alta prevalência nessa população. Tais sinais estão descritos no documento original (6) e, também, no quadro abaixo:
Sinais de alerta para transtornos alimentares em pessoas com DM
Fonte: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, 2022 (referência 6)
As atuais diretrizes também destacam fatores que podem agravar o TA, sendo o manejo nutricional um dos pontos discutidos. Dietas baseadas em porções e quantidades restritas de alimentos, assim como a estratégia de contagem de carboidratos, frequentemente são percebidas como formas de restrição (8,9). Logo, o plano alimentar deve ser flexível e individualizado, com mudanças graduais em relação à ingestão alimentar do indivíduo. Além disso, com o apoio da equipe multidisciplinar, os pacientes podem desenvolver habilidades baseadas nos princípios do ‘comer intuito’, que reúne estratégias alimentares dirigidas internamente, voltadas ao reconhecimento dos sinais de fome e saciedade e com maior atenção para experimentar o ato de comer.
Para conhecer as demais recomendações e ler o documento na íntegra, acesse: https://diretriz.diabetes.org.br/transtornos-alimentares-na-pessoa-com-diabetes/
Referências
⦁ American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5 edição (DSM-5). 5th ed. Artmed; 2014
⦁ Young V, Eiser C, Johnson B, Brierley S, Epton T, Elliott J, et al. Eating problems in adolescents with Type1 diabetes: A systematic review with meta-analysis. Diabet Med. 2013;30(2):189–98.
⦁ Markowitz JT, Butler DA, Volkening LK, Antisdel JE, Anderson BJ, Laffel LMB. Brief screening tool for disordered eating in diabetes: Internal consistency and external validity in a contemporary sample of pediatric patients with type 1 diabetes. Diabetes Care. 2010;33(3):495–500.
⦁ Colton P, Olmsted MP, Daneman D, Farquhar JC, Wong H, Muskat S, et al. Eating disorders in girls and women with type 1 diabetes: a longitudinal study of prevalence, onset, remission, and recurrence. Diabetes Care. 2015;38(7):1212-7. doi: 10.2337/dc14-2646.
⦁ Powers MA, Richter S, Ackard D, Critchley S, Meier M, Criego A. Determining the Influence of Type 1 Diabetes on Two Common Eating Disorder Questionnaires. Diabetes Educ. 2013;39(3):387–96.
⦁ Pieper C, Campos T, Bertoluci M. Transtornos alimentares na pessoa com diabetes. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2022). DOI: 10.29327/557753.2022-24, ISBN: 978-65-5941-622-6.
⦁ Organização Mundial da Saúde. Classificação dos transtornos mentais e do comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas; 1993
⦁ Daneman D, Rodin G, Jones J, Colton P, Rydall A, Maharaj S, Olmsted M. Eating disorders in adolescent girls and young adult women with type 1 diabetes. Diabetes Spectrum. 2002;15(2):83-105. . Available from: https://doi.org/10.2337/diaspect.15.2.83.
⦁ Goebel-Fabri A, Anderson BJ, Fikkan J, Franko DL, Pearson K, Weinger K. Improvement and emergence of insulin restriction in women with type 1 diabetes. Diabetes Care. 2011;34:545-50. Available from: https://doi.org/10.2337/dc10-1547.
Dra Maristela Strufaldi
- Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo;
- Mestre em Ciências (Endocrinologia Clínica) pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP);
- Especialização em Saúde da Mulher e em Nutrição Esportiva e Obesidade pela Universidade de São Paulo (USP);
- Educadora em Diabetes (IDF-SACA/ADJ/SBD);
-
Membro do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes (gestão 2024 -2025).
-
Dra Maristela Strufaldi#molongui-disabled-link
-
Dra Maristela Strufaldi#molongui-disabled-link
-
Dra Maristela Strufaldi#molongui-disabled-link
-
Dra Maristela Strufaldi#molongui-disabled-link