Os autores elaboraram um artigo de revisão que relaciona a microbiota intestinal com o desenvolvimento do diabetes tipo 1 e 2, discutindo também sobre os benefícios obtidos na prevenção e tratamento do DM1 e DM2 a partir da modulação dessa microbiota com a administração de probióticos.
O artigo é introduzido a partir de uma abordagem sobre a relação existente entre o aumento do processo inflamatório com os mecanismos moleculares que contribuem com a resistência à insulina e com a autoimunidade. Esse processo inflamatório pode ser exacerbado pela disbiose, que contribui com o aumento da permeabilidade intestinal, favorecendo a translocação do lipopolissacarídeo bacteriano (LPS), componente presente na parede celular de bactérias gram-negativas, resultando em endotoxemia metabólica.
A relação entre a microbiota intestinal e o DM2 foi estabelecida a partir do desequilíbrio de determinados filos de bactérias, decorrente do consumo de uma dieta hiperlipídica. Esse tipo de dieta, aumenta a oxidação de ácidos graxos no fígado e no tecido adiposo, gerando espécies reativas de oxigênio, que reduzem a produção de muco no epitélio intestinal e danificam as tight junctions, diminuído a integridade da barreira intestinal. Além disso, o consumo de elevadas quantidades de gordura também causa a morte de bactérias gram-negativas, aumentando a quantidade de LPS no intestino. Os autores apontam que o aumento da permeabilidade intestinal, e consequentemente, da translocação de LPS resulta na ativação de receptores toll like 4. A ativação desses receptores estimula a síntese de óxido nítrico e de citocinas inflamatórias, fator que resulta na fosforilação do substrato 1 do receptor de insulina (IRS-1), em resíduos de serina, e consequentemente em resistência à insulina.
Os mecanismos que associam a microbiota intestinal com o DM1 ainda precisam ser esclarecidos. O artigo aborda uma possível via que relaciona a disbiose ao aumento da permeabilidade intestinal e da translocação de antígenos, que aumentam as respostas imunológicas e podem danificar as células β pancreáticas. Eles também destacam que pessoas com DM1 apresentam perturbações nas estruturas da barreira intestinal e maior quantidade de bactérias dos gêneros Clostridium, Bacteroides e Veillonella, e que crianças saudáveis apresentam uma microbiota intestinal mais variada e estável do que crianças que desenvolvem DM1. Sendo assim, a manutenção de uma microbiota saudável parece reduzir a resposta imunológica e os processos inflamatórios, além de aumentar a secreção de IL-10, citocina anti-inflamatória.
De acordo com as tabelas contendo resultados de estudos experimentais e ensaios clínicos presentes no final do artigo, uma forma de manter a microbiota intestinal saudável é a partir da administração de probióticos. De modo geral, os estudos apresentados mostraram que os probióticos podem trazer benefícios como: redução de citocinas inflamatórias, reforço da barreira intestinal, redução da incidência de DM1, da glicemia da hemoglobina glicada e da destruição das células β pancreáticas, aumento da sensibilidade à insulina e da capacidade antioxidante.
Os autores concluíram que de acordo com os resultados dos estudos avaliados, a modulação da microbiota intestinal parece ser eficiente na prevenção e tratamento do DM1 e DM2, mas que os mecanismos moleculares associados a esses benefícios ainda devem ser esclarecidos.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
- Gut microbiota, probiotics and diabetes. Aline Corado Gomes, Allain Amador Bueno, Rávila Graziany Machado de Souza,João Felipe Mota. Nutrition Journal 2014, 13:60
Dr João Felipe Mota
Bolsista pesquisador CNPq - 2. Doutor em Ciências, área de concentração Nutrição, pela UNIFESP. Pós-doutoramento pela University of Alberta, Human Nutrition Research Unit. Mestre em Patologia pela Faculdade de Medicina - UNESP. Especialista em Cuidados Nutricionais do Paciente e Desportista e Especialista em Bioquímica Nutricional e Dietética pela pela Faculdade de Medicina - UNESP. Professor Associado da Universidade Federal de Goiás. Coordenador do Laboratório de Investigação em Nutrição Clínica e Esportiva (LABINCE) da UFG. Editor Associado da PlosOne e Clinical Nutrition ESPEN.
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Msc. Aline Corado Gomes
- Doutoranda em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Goiás
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