O porquê das hipoglicemias graves ou assintomáticas

Preparava-me para escrever sobre hipoglicemias noturnas, quando me deparei com um curto artigo na PLoS Medicine1, em que hipoglicemias graves, ou severas, e assintomáticas também eram exploradas. Então, lembrei-me das estratégias publicadas pela JDRF2 para reverter hipoglicemias assintomáticas, o que me fez optar por uma discreta mudança do tema deste mês.

Para começar, é importante lembrar que a secreção de hormônios responsáveis pelo controle da glicemia, e da hipoglicemia, é comprometida em quem tem diabetes tipo 1. É, justamente, graças à ação desses hormônios, que quem não tem diabetes dificilmente apresenta hipoglicemia. Entre eles, fundamentais para a contrarregulação, estão o glucagon e a adrenalina. Um dos principais motivos para essa desregulação é o fato de a insulina, que já foi injetada, não ser inibida com a baixa da glicemia. Com isso, a ação desse hormônio (insulina), além de estimular a continuidade da retirada da glicose do sangue, inibe a liberação do glucagon. Ao mesmo tempo, a adrenalina, também com sua liberação reduzida e atrasada nessa população (acontece apenas quando o valor da glicemia já é extremamente baixo), é acompanhada de atenuação da resposta autonômica, comprometendo os sintomas característicos associados à baixa da glicose. Com isso, as hipoglicemias podem não ser percebidas e se agravar. 

A ocorrência de hipoglicemias recorrentes ou recentes está entre os principais motivos que favorecem a redução das respostas simpatoadrenal (liberação de adrenalina e noradrenalina), sintomática e cognitiva à hipoglicemia. Mas e então, o que fazer? Já que no DCCT foi mostrado aumento da incidência de hipoglicemia em indivíduos com controle intensivo, deve-se abrir mão do bom controle? De forma alguma! Deve-se, sim, utilizar recursos educacionais, tecnológicos e/ou farmacológicos com o intuito de amplificar os sintomas e detectar e corrigir precocemente hipoglicemias, evitando que se agravem

Se, mesmo fazendo ajustes na terapia, acontecerem hipoglicemias assintomáticas, a JDRF2 faz a recomendação abaixo, com o objetivo de reverter a perda dos sintomas. Para isso, fica claro o propósito de reduzir a frequência de hipoglicemias e, com isso, sair do círculo vicioso que favorece a ocorrência e o agravamento desta condição.

  • Reduzir a dose total diária de insulina e usar metas glicêmicas mais elevadas durante algumas semanas (pelo menos 2 a 3 semanas);
  • Evitar, nesse período, glicemias abaixo de 90 mg/dl (para isso, medir a glicemia com maior frequência);
  • Consumir alimentos (corrigir) antes que a glicemia atinja níveis baixos (abaixo de 90 mg/dl);
  • Não consumir bebidas alcoólicas;
  • Manter contato com a equipe de saúde, especialmente com o/a endocrinologista.

Portanto, apesar de ser um fato a ocorrência de hipoglicemias, especialmente em pessoas com diabetes tipo 1, o avanço da tecnologia médica e do conhecimento permite-nos lançar mão de diferentes estratégias, com destaque à terapia individualizada e à educação contínua, para que o manejo do diabetes esteja sempre associado à qualidade de vida.

Referências bibliográficas:

  1. Gabriely I; Shamoon H (2007) Awakening from sleep and hypoglycemia in type 1 diabetes mellitus. PLoS Med 4(2):e99.
  2. Overland, J; Sluis, M; Reyna, R (2013) Straight to the point: a guide for adults living with type 1 diabetes, 2nd ed. Australia: JDRF.
Dr. Mark Barone
  • Doutor em Fisiologia Humana (ICB/USP)
  • Especialista em Educação em Diabetes (ADJ-IDF-SBD, UNIP e IDC)